"Como construir uma paisagem" - CasaBASA.temp, São Paulo, 2024

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Uma coletiva com curadoria de Vitor Mazon que reúne trabalhos de 21 artistas, revelando fragmentos e possibilidades de paisagens. A exposição acontece na CasaBASA.temp, um espaço expositivo temporário conectado à Basa Network. 

[EN]  A group exhibition curated by Vitor Mazon, bringing together works by 21 artists, revealing fragments and possibilities of landscapes. The exhibition takes place at CasaBASA.temp, a temporary exhibition space connected to Basa Network. 

Artistas / [EN] Artists: Andre Bonani, Azeite DeLeos. Céu Isatto, Deco Adjman, Fernanda Corsini, Guilherme Gafi, Igor Morales, João Paulo Paixão, Lucas Quintas, Lucas Rampazzo,  Paulo Agi,  Pedro Gutierres, Malu Tigre, Marina Ayra, Mayara Solera, Nathalie Ventura, Paloma Mecozzi, Patricia Furlong, Rodrigo Ferrarezi, Sher Santos  e Thiá Sguoti.

Texto Curatorial  

Como construir uma paisagem, por Vitor Mazon

A paisagem nunca é um dado estático, mas um organismo em constante construção. Ela se inscreve em um entrelaçamento de presenças e ausências, memórias e fragmentos, vidas humanas e não humanas. Não basta vê-la como um quadro pendurado na parede ou um cenário fixo à espera de contemplação: ela emerge da interação contínua entre seus elementos, em uma teia dinâmica de relações que se refaz a cada instante.

Um espaço vazio, uma pedra gasta coberta de musgo, o fluxo de um riacho ou a quietude de um lago — cada detalhe carrega em si camadas de histórias e significados. A paisagem é tanto o visível quanto o que se esconde sob a superfície: raízes que conectam mundos subterrâneos, líquens que resistem à passagem do tempo, sombras que vagam silenciosas e transformam o que parece imutável. É o chão que respira, as árvores que sussurram, o céu que nunca se fixa. Mesmo o horizonte, sempre em transformação, desafia a noção de permanência.

Essa multiplicidade exige o olhar atento, o corpo presente, a memória ativa. Cada fragmento — uma folha caída, um pedaço de concreto, um galho retorcido — encontra sentido na rede maior que o envolve. É a convivência de elementos aparentemente desconexos que dá forma ao espaço, que o transforma em paisagem. E nesse processo, o espectador é mais que um observador: é um participante, um narrador que, ao conectar os fragmentos, cria significados únicos e irrepetíveis.

A paisagem é, portanto, uma experiência coletiva. Não é apenas o que está diante dos olhos, mas o que se insinua nas margens do olhar. É a memória de quem a percorre, o gesto de quem a transforma, o silêncio que a reinventa. Como um organismo vivo, ela respira, mesmo na ausência; refaz-se, mesmo na quietude. Não se limita ao que já foi ou ao que é agora, mas carrega em si a promessa do que pode vir a ser.

Convidar o público a reconhecer essa complexidade é também um convite à reflexão. A paisagem se revela na atenção aos detalhes, nas interações que parecem efêmeras, mas que moldam o espaço de maneira profunda. É um fluxo contínuo, um diálogo incessante entre o humano e o não humano, entre o que vemos e o que deixamos de ver. Reimaginar a paisagem é reimaginar o mundo — e, talvez, a nós mesmos.

Vernissage